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O CURIÓ RESENDENSE

Não, não vou falar do saudoso “Canarinho”, um dos motoristas que faziam ponto ali perto de meu inesquecível consultório.
Vou falar de um curió. Um curió muito especial.
Vivi em Resende durante três anos e 5 meses, entre abril de 74 e agosto de 77.
No princípio morei no apartamento de minha irmã, no próprio prédio em que tinha consultório, Edifício Agulhas Negras.
Quando a primeira filha nasceu, eu passei a morar no Hotel Avenida.
Todas as noites eu ficava vendo televisão em sua casa e saía com a minha garrafinha de água, para ir dormir.
Meu cunhado sempre foi um apaixonado pelo cantar dos passarinhos.
Criava alguns e muito bem.
Certa vez adquiriu, ou trocou, com o porteiro do prédio, Nelson, um curió.
E lá veio morar no apartamento 306.
Quando ele ficava de férias, eu era o encarregado de cuidar dos seus passarinhos.
Vim embora no dia 1 de setembro de 1977 e três meses depois, eles também vieram, trazendo, é claro, o curió.
E eis que de tanto ser bem tratado, o passarinho viveu, viveu, viveu muito.
Quando eu ia visitá-los, fazia questão de sempre dar um alô e ouvir seu canto. Queria muito me lembrar dos velhos tempos de Resende.
Até que um dia, fiz uma recomendação à minha irmã:
– No dia em que este passarinho morrer, não jogue fora, eu quero enterrá-lo em minha casa, como lembrança daquela época.
Em fevereiro de 2004, ou seja 27 (!) anos depois da vinda para cá (quando ele chegou já deveria ter uns 2 anos), ao regressar de uma viagem, soube que havia morrido.
Mas minha irmã se lembrou de meu pedido. Guardou seus restos mortais numa caixinha de madeira lacrada e me entregou.
Imediatamente, o levei para minha casa, então na Porta do Céu, onde vivi por 23 anos, até sofrer um assalto, e o enterrei no jardim.
Já não moro lá desde 2011 porque ficamos traumatizados. A casa não me pertence mais. Mas o curió permanece lá e assim será para sempre.
(Se alguém de Resende souber me falar algo sobre o “Canarinho” e o Nelson, que foi porteiro do Agulhas Negras, por favor, me fale).
Na casa em que morei em seguida, onde mora hoje meu filho e xará, ficou sepultada nossa cachorra Bianca, companheira desde 1998 até 2013.
E no sítio há vários animais enterrados.
Assim sou eu…

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