O Sul de Minas segue sendo a terra do café. A região é a maior produtora e exporta o seu principal produto para todas as partes do mundo. Mas nos últimos anos, a economia da região vem passando por uma transformação, que tem gerado novos empregos, renda e desenvolvimento. O agro segue muito forte, mas não é mais o único caminho.
O g1 Sul de Minas completa 10 anos nesta quinta- feira (9) e para comemorar a data traz nesta semana reportagens especiais sobre as transformações sofridas pela região nessa última década.
“Isso na verdade nada mais é que o próprio dinamismo econômico. Quer dizer, você agora não depende mais de um único setor, de um tipo de atividade como era o café, que ainda é muito importante para a região, mas você vai diversificando essa economia. Então, tanto nos aspectos das indústrias propriamente ditas, mas dos serviços atrelados a essas indústrias, vai ocorrendo uma diversificação”, afirma o economista da Unifal-MG, Fernando Batista Pereira.
Extrema é a cidade que mais representa o desenvolvimento nos últimos 10 anos no Sul de Minas. A pequena cidade que dobrou sua população entre os anos 2000 e 2020 já não é mais tão pequena assim e se prepara para ganhar mais 50 mil habitantes nos próximos 10 anos.
Em dezembro de 2019, Extrema se tornou oficialmente a maior economia do Sul de minas ao ultrapassar Pouso Alegre e assumir a liderança do ranking dos maiores PIB (Produto Interno Bruto) da região. Conforme os dados mais recentes do IBGE, a cidade tem hoje um PIB de R$ 10,1 bilhões, enquanto Pouso Alegre tem R$ 8,7 bilhões, Poços de Caldas (R$ 7,6 bilhões) e Varginha (R$ 6,2 bilhões).
Além disso, Extrema tem hoje o 11º maior PIB per capita do país, com R$ 279.824,02 por habitante. Para efeito de comparação, o PIB per capita de Pouso Alegre é hoje de R$ 58.312,84 e o de Poços de Caldas, R$ 45.798,92.
“Outro dado importante quanto a isso. Extrema já é o 9º maior PIB de Minas Gerais, com PIB comparável em valores ao de Montes Claros, no Norte do estado, que tem uma população 10 vezes superior. Enfim, o Sul de Minas continua tendo um dinamismo econômico, mas houve uma mudança grande dentre esses maiores municípios economicamente falando”, afirma o economista Fernando Batista Pereira.
Segundo o economista, o “efeito Extrema” está diretamente ligado ao transbordamento da economia do Estado de São Paulo. Como a cidade fica a apenas 100 quilômetros da capital paulista e outras grandes cidades do estado mais rico do país, acaba sendo beneficiada pelo fator localização.
“O Sul de Minas já vinha se beneficiando disso há pelo menos 20, 30 anos. Essas economias vão crescendo e muitas vezes essas empresas vão vindo para locais próximos, mais baratos, em melhores condições e com ICMS mais barato. É uma cidade que está a cento e poucos quilômetros de Campinas, São Paulo, então você aproveita a proximidade dos grandes mercados consumidores e por outro lado, você vai produzir em esferas industriais e com serviços com custos mais baixos”, afirma Fernando Batista.
Extrema é hoje, conforme define a representante da Secretaria de Desenvolvimento de Extrema, Mônica Vieira, um “bairro mais longe” de São Paulo. Mas fora a localização, a representante destaca outros dois pontos que fazem a diferença para que a cidade tenha o destaque dos últimos anos: sequência de gestão e infraestrutura.
Segundo Mônica, Extrema tem hoje uma sequência de gestões que já dura 30 anos. O atual prefeito, João Batista (DEM), já não pertence ao mesmo grupo político que começou a trajetória, mas continua uma carreira pública que começou há três décadas como office boy.
“Quando eu digo que um prefeito pode se reeleger, é porque ele tem quatro anos para entender a casa e quatro anos para fazer a execução. Quando eu digo que o meu prefeito está há 30 anos na prefeitura, o cenário muda. Nós temos sim política, diferente de politicagem, então a gente consegue fazer uma política onde a gente tem resultado”, diz a representante.
Ainda conforme Mônica Vieira, outro fator fundamental é a infraestrutura. Quando a empresa demonstra o interesse de ir para a cidade, todos os departamentos da prefeitura trabalham para “desengessar” os procedimentos.
“Se a gestão entende que a empresa está beneficiando o bairro, ela leva a infraestrutura até a porta da empresa. Isso dá tranquilidade para o empreendedor, quando a gente leva o asfalto, a internet, a energia, a água, isso ajuda demais”, diz ela.
“A gente cria a estratégia pra ele perceber se Extrema é o melhor caminho, a melhor opção, o local que ele vai ganhar dinheiro. Vir pra Extrema é pra ganhar dinheiro”
Outro ponto a ser levado em conta, e não menos importante, é o que Mônica chama de “a cereja do bolo”: o incentivo fiscal que é dado pelo Estado para que essas empresas possam vir para Minas Gerais.
“Hoje eu digo que o incentivo fiscal do Estado é a nossa cereja do bolo. O e-commerce que deixa de contribuir com 18%, 12% de ICMS e vem para Minas com 1,5% e depois pode chegar a 1%, isso muda totalmente o que a empresa vai ter como retorno”, completa a representante.
O desenvolvimento industrial dos últimos anos fez com que Extrema conseguisse uma diversificação nos tipos de empresas que estão hoje instaladas na cidade. Além das indústrias de transformação e de alimentação, que fazem com que hoje Extrema seja o 4º polo de produção de chocolate, a cidade tem atraído recentemente grandes empresas do setor de e-commerce.
Uma das empresas que migraram para a cidade é um dos maiores sites de e-commerce especializado em moda no país e na América Latina. A empresa está em Extrema desde 2015 e recentemente inaugurou um centro de distribuição automatizado, que conta com 54 mil m² de área construída e 300 robôs. A operação, que tinha 200 funcionários no início, hoje já conta com quase mil.
“Extrema está super próximo de São Paulo, que acaba sendo a maior região de demanda e tem acesso fácil para o interior de SP e de Minas, obviamente com a Fernão Dias, o acesso direto. Acaba sendo uma via de acesso fácil também para o abastecimento no Rio de Janeiro, então é uma localização super privilegiada combinada ao benefício fiscal”, disse em entrevista ao g1 o diretor de operações da Dafiti Group Brasil, Alexandre Faria.
Segundo o executivo, a presença de várias empresas do mesmo segmento também auxilia no processo de qualificação da mão de obra.
“Quando você tem ali um setor que já está atuando em uma determinada região, você acaba tendo uma qualificação ou uma especialização na mão de obra muito focada nesse setor e isso é bom para todo mundo que se instala na região, até mesmo os sindicatos estão mais habituados com a dinâmica desse segmento. Além disso, existe todo um ecossistema em torno de todas essas operações, são diversos serviços que são necessários”, completou.
A facilidade de se encontrar mão de obra especializada também é ressaltada pelo diretor de operações de outra empresa, especializada em cosméticos, João Del Cura. A empresa de cosméticos, que tem fábrica em Jandira (SP), possui um Centro de Distribuição em Extrema desde 2018 e de lá abastece os mercados consumidores em todo o país.
“A logística demanda especialização bastante específica dos profissionais, tanto os do centro de distribuição quanto da área administrativa. São habilidades específicas que precisam ser desenvolvidas e eu acho que a cidade está repleta disso. De certa forma, a gente tem facilidade de encontrar bons profissionais na cidade, que tem essas competências e habilidades bem desenvolvidas e isso propicia uma velocidade interessante para o negócio”, disse João Del Cura, diretor de operações da Hinode.
Extrema é um case à parte, conforme mostrado nesta reportagem. Mas outras cidades do Sul de Minas também vem sendo beneficiadas com o surgimento de polos específicos que geram riquezas e trazem desenvolvimento.
É o caso por exemplo de Pouso Alegre, que recentemente viu crescer um polo farmacêutico, com vários laboratórios se instalando na cidade. Santa Rita do Sapucaí (MG) conta com um polo de empresas de tecnologia e a moda impulsiona a economia de cidades como Juruaia, Borda da Mata, Monte Sião e Jacutinga.
Para o economista Fernando Batista Pereira, o Sul de Minas é um caso único em que as pequenas cidades não dependem necessariamente de regiões metropolitanas, como acontece em outras partes do estado.
“Aqui são muitos municípios médios e pequenos, que estão entrelaçados de uma maneira mais complexa, mas também com circulação de pessoas entre os municípios. Isso permite que esses municípios tenham a sua especialização, não fiquem totalmente dependentes dos maiores e eles podem desenvolver atividades econômicas mais especializadas”, concluiu Fernando.
Fonte G1
Cookie | Duração | Descrição |
---|---|---|
cookielawinfo-checkbox-analytics | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Analytics". |
cookielawinfo-checkbox-functional | 11 months | The cookie is set by GDPR cookie consent to record the user consent for the cookies in the category "Functional". |
cookielawinfo-checkbox-necessary | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookies is used to store the user consent for the cookies in the category "Necessary". |
cookielawinfo-checkbox-others | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Other. |
cookielawinfo-checkbox-performance | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Performance". |
viewed_cookie_policy | 11 months | The cookie is set by the GDPR Cookie Consent plugin and is used to store whether or not user has consented to the use of cookies. It does not store any personal data. |